Texto premiado no VIII Prêmio Escriba de Contos
com publicação em Antologia (2013).
Em algum lugar do mundo...
O sol escaldante abrasava os
corpos nas filas de atendimento. Jaziam todos imóveis como lagartos ao sol. No
senso comum, a regra tácita era não se mover.
No salão repleto de gente a luz transpassava os vidros dos
janelões enferrujados e ofuscava os olhares dos usuários do sistema, cegando-os
temporariamente. Cumplicidade do arquiteto.
No fim da segunda fila postava-se o senhor Gervásio da Silva
Matos ̶̶̶̶ carpinteiro aposentado e poeta em
formação ̶̶̶̶ catalogado como um dos espécimes dessa estufa
humana, que observava o ambiente, apreensivo. Do seu ponto vista, a fila que
lhe precedia parecia composta por bonecos de cera submetidos a uma reação química
ardilosa e cruel: a parafina lhes escorria sob a forma de gotas de suor quando
em contato com o descaso e com aquela temperatura saárica, transformando-os em
objetos disformes.