Carnaval
no Rio é um show à parte. E o Zé sabia disso.
Gente
do mundo todo, povo na rua, arquibancadas lotadas e desfiles espetaculares.
O Zé sempre
adorou o carnaval, mas precisava trabalhar. Este ano arrumou um esquema com o
Travão, segurança da Sapucaí: um cantinho para vender água mineral durante os
desfiles.
Só tinha que ficar de olho na fiscalização. Mas ele estava acostumado. Tinha sido camelô no Saara e levantava acampamento rápido quando davam uma batida.
Só tinha que ficar de olho na fiscalização. Mas ele estava acostumado. Tinha sido camelô no Saara e levantava acampamento rápido quando davam uma batida.
O Zé é
miúdo e conhecido na favela como Naldinho, pela semelhança com o Ronaldinho
Gaúcho, jogador que já foi Milan e Barcelona, mas que agora é Flamengo.
Entre
cada garrafinha vendida a cinco reais, o Zé sambava no pé e curtia o espetáculo
das escolas em posição privilegiada. Bem ao jeitinho brasileiro – dando nó em
pingo d’água...
Esperava
lucrar muito com as vendas. Queria comprar uma tevê de LCD para o seu barraco novo.
O calor conspirou a seu favor e as vendas iam bem. O Zé estava quase
acreditando que na quarta-feira de cinzas ia assistir ao canal de esporte
naquela tela de quarenta e duas polegadas.
A certa altura da madrugada, o Travão o chamou
no rádio:
–
Malandro, a água de um camarote daqui acabou e tem um político passando mal.
Traz uma ‘mineral’ rápido que ele tem que tomar um remédio.
– Como eu
vô entrá aí?
– Te
espero na entrada e libero tudo. É bem aqui em cima, na tua direção.
O Zé
chegou com a água. O Travão arrumou uma camiseta do camarote para ele entrar
disfarçado. O político tomou o remédio e melhorou logo. Pagou com uma nota de
cinquenta e não quis o troco. O Zé sorriu.
O Travão o deixou circular, mas logo avisou:
O Travão o deixou circular, mas logo avisou:
– No
máximo quinze minutos malandro, senão pode sobrar pra mim.
O Zé nunca
tinha estado num lugar assim. Autoridades, celebridades, gente da televisão, do
cinema, todos reunidos no mesmo lugar. Ele nem podia acreditar!
Tinha
pouco tempo e a sua barriga roncou ao ver a mesa do bufê montada. Serviu-se num
pratinho e colocou tudo o que jamais havia comido: patês, folhados, caviar e o que mais coube naqueles vinte centímetros rasos. Foi para um canto discreto e
olhou a Sapucaí de cima. Uma visão única! Coisa de rico, pensou.
Enquanto tratava de devorar as iguarias, viu
uma loirinha sorrir para ele e cochichar alguma coisa com o seu segurança pessoal.
Em menos de um minuto o tal rapaz estava na frente do Zé falando um português
de gringo. Não deu para entender tudo mas com alguns gestos, o Zé tinha o
suficiente: a loirinha estrangeira – popstar do momento – queria uma foto com o
Ronaldinho.
O Zé
olhou para a porta e viu o Travão acenando. Era hora de sair. Só teve tempo de
chegar na loirinha, passar o braço por trás do seu ombro e sorrir para a câmera
do segurança. A mocinha ia engatar uma conversa em inglês, mas ele apontou para
o relógio de plástico que tinha no pulso, deu um sorriso e acenou um tchau.
A noite acabou e o Zé voltou para a favela
com aquele sorriso grudado no rosto. Agora podia dizer para os amigos como era
a Sapucaí dos ricos. Quando chegou no barraco deitou no colchão e contou a
féria. Ainda não dava para a tevê, mas tudo bem...
No
dia seguinte sua mãe orgulhosa mostrava a foto do jornal local para as
vizinhas: Tá vendo este Ronaldinho aqui do camarote? É o meu Zé, gente! É o meu
menino!
É, carnaval no Rio é um show à parte....
Um comentário:
Minha nossa Senhora, como você é criativa!
Adorei seu texto, achei super original!Continue assim.
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