Passadas algumas décadas a vida já não é nenhuma surpresa. Vamos
vivendo e ao longo dos anos os fatos e as reações humanas se repetem ante
nossos olhos com a previsibilidade inerente às fraquezas da nossa espécie.
Mudam personagens, locais, mas as circunstâncias e a trama das histórias geram ao
final uma mesma série recorrente de reações e eventos.
Aquele espanto diante da vida que temos na infância – quando descobrimos um pedacinho do mundo a
cada dia – se exaure na medida que nos
tornamos mais velhos. E aí nos cansamos. Ficamos com aquele enfado de quem
assiste há anos um canal de tevê tedioso –
sempre mais do mesmo.
Se alguém não se adaptar a essa mesmice e quiser um novo cenário talvez
precise fazer tudo diferente do que já fez. Ter interesses diferentes, conhecer pessoas diferentes, ir a lugares
diferentes, amar de um jeito diferente, buscar respostas por um caminho
diferente, e por aí vai.
Mas será que isso é possível?
Será que somos capazes de inovar sempre? De praticar inesgotáveis
variações de nós mesmos, de criar periodicamente novos caminhos? Quem de nós, meros
mortais, possui condições de trazer constantemente para este mundinho previsível
algo de inédito e valioso?
Ou talvez seja o contrário.
Pode ser que a cada gesto ou reação repetida de nossos interlocutores
nos caiba somente o esforço de lhes legar um novo significado. Esses eventos
cíclicos, essa mesmice, seriam propulsores de mudanças a nos exigir novas
formas de alavancar a vida, variando somente o olhar que temos sobre as coisas (e
pessoas) já que não podemos mudar boa parte das coisas em si. Já que não podemos nos reinventar com tanta
frequência, pois nossas transformações são como doces em calda: para serem completas, devem ser primeiro cristalizadas. E já que não somos capazes de buscar novos caminhos na velocidade com que um primata
pula de galho em galho.
Talvez.
Talvez.
É, depois de algumas décadas viver já não é nenhuma
surpresa, mas ainda assim isso não nos garante como será a vida daqui por
diante. Quanto a isso, a única certeza que tenho é que não tenho certeza nenhuma.
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