Outro dia vi na rua uma senhora idosa. Pareceu-me uma antiga professora
da faculdade. Não tive a chance de abordá-la, pois uma jovem de carro parou e a
levou embora. Mas a lembrança da mestra – chamava-se Lourdes – me trouxe à
mente uma de suas falas. Palavras que pude ver comprovadas várias vezes no
decorrer da vida.
Dona Lourdes tinha uma maneira especial de lidar com os alunos-problema.
Alguma magia que fazia com que os ânimos se ajustassem, as revoltas se
aplacassem, as disputas cessassem.
Numa tarde perguntei a ela como conseguia mudar as personalidades de
jovens que pareciam intratáveis.
Ela me respondeu:
– Nosso sensorial é limitado. Veja os animais: cães, morcegos, felinos,
répteis... Têm a visão, a audição, o olfato e outros sentidos muito mais desenvolvidos que
o homo sapiens. Porque não foram brindados com o intelecto. Sua expansão
sensorial é uma compensação para manter a sobrevivência. Os humanos às vezes se
limitam a usar os sentidos para reconhecer seu semelhante. E nossos sentidos são pobres. Vemos uma
conduta errada, ouvimos uma palavra áspera e fechamos um quadro diante de nós.
Nosso intelecto tampouco nos ajuda a ver muito além. Talvez só um pouco mais,
usando a razão para entender certos comportamentos. Então procuro ver e ouvir
com a alma. E assim descubro como lidar com essas crianças.
Tirei
disso uma lição para muitas situações. A partir daí não me acabrunhava tanto com os dias
cinzentos. Sabia que as nuvens que ali estavam não refletiam a verdade: o céu é
azul. E ele está lá sempre, só há ocasiões que não podemos vê-lo.
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