Texto premiado com publicação na ANTOLOGIA MEU BRASILEIRO
Editora Litteris / RJ. Publicado em 2013.
Nunca houve ninguém a quem o nome se amoldasse tanto!
Genuíno Brasileiro
teve sua vida pautada pela alcunha inerente ao próprio registro de nascimento.
Seu pai, João Batista Brasileiro, decidiu-lhe o nome quando ainda em útero.
Dizia à esposa que andava a ler uns escritos modernos, que afirmavam que o nome
interferia no sucesso ou fracasso do indivíduo na vida, e que assim fosse, nada
mais justo que dar ao nascituro um prenome forte, atemporal, que lhe conferisse
respeitabilidade. E o que melhor traduziria essas qualidades, senão “Genuíno”?
– Se é isso que se busca em quase todas coisas?
Fale-se de diamantes, charutos ou relógios, o que se impõe é que sejam genuínos!
Porque essa certeza da origem nos imprime a confiança na qualidade e o
prestígio da procedência legítima – dizia João.
O menino nasceu e
por ironia do destino, aos três anos já desenhava bandeirinhas do Brasil. Ao
ver que os adultos lhe elogiavam os traços, tomou gosto pela coisa e passou a
se aprimorar. Com cinco anos suas bandeiras saíam perfeitas e ele as fazia aos
montes e as colava num barbante formando um varal de Brasis à volta do quintal.
Quando
o nível de dificuldades foi de todo vencido, o desinteresse o levou aos mapas
do Brasil. Quase poderia ser cartógrafo, tal a riqueza de detalhes e a
perfeição das retas e curvas. Com o avançar dos estudos, aprendia na escola os
aspectos físicos do relevo e da vegetação e os incluía nos planaltos e
planícies que preenchiam aquelas cartas
geográficas. Chegou a ganhar um concurso com um deles que lhe valeu uma
passagem para o Rio, com direito a visitar os seus principais pontos de atração.
Saído de sua
cidadezinha simples do sertão, Genuíno – que nunca havia viajado –percebeu que
além dos limites de sua terra natal havia um mundo bem diferente. Foi aí que
lhe surgiu o desejo de percorrer todo o Brasil.
– Quando for adulto
não vai ter terra deste país que eu não conheça! – dizia.
E prosseguindo sua
sina patriótica, ao se tornar adolescente encantou-se com a ideia de servir o
exército. Alistou-se e por lá ficou uns bons cinco anos, tanto que chegou a
lutar na Segunda Guerra Mundial – fato que o enchia e orgulho e que lhe serviu mais
tarde de passaporte para arrumar trabalho nas cidades por onde passava.
Ao voltar da
guerra, já com o pai falecido, disse à mãe que queria correr o Brasil. Chegara
o momento de realizar o seu sonho da infância.
Tornou-se um
viajante. Por onde passava arrumava um ganha-pão o tempo suficiente para juntar
dinheiro e seguir adiante a novas bandas. Trabalhava em restaurantes – no
exército aprendera a cozinhar.
Foi descendo o
Brasil, conhecendo o país a partir de suas origens: do porto de chegada na
Bahia foi desvendar as serras litorâneas, o triângulo mineiro, a metrópole
paulista e sucessivamente os estados do sul. Registrava tudo em sua câmera fotográfica. Tinha
intenção de fazer um livro sobre suas andanças.
Genuíno era
patriota pelos quatro costados. E ai de alguém que cruzasse seu caminho e
falasse mal do Brasil! Podiam falar mal dos governos e dos políticos, mas do
Brasil, não.
Nas suas andanças
ele descobriu um país afortunado, de terras profícuas, de belezas
indescritíveis e com um povo – genuinamente – de alma boa. Um povo tão mesclado
que se tornara um amálgama de culturas e tradições repletas de riquezas.
Genuíno percorreu o sul e o sudeste, o norte e o nordeste e por último o
centro-oeste. Nisso se passaram trinta anos!
E foi lá no
pantanal que, já passada a meia-idade, conheceu Zulmira, com quem viria a se
casar meses depois. No ano seguinte voltou com mulher e filho para sua terra
natal. A cidade crescera e agora se parecia com muitas que havia conhecido. O
progresso chegara até lá. Montou um pequeno restaurante e se dispôs a comprar
uma casa. A primeira que teria em toda a sua vida.
– Se é pra ter casa
fixa, quero que seja aqui. Pra que meu filho comece a estrada de onde comecei.
Porque se pra mim foi boa a caminhada, pra ele vai ser melhor, pois vou lhe
contar tudo o que descobri... – dizia, orgulhoso.
Genuíno comprou sua
casinha. Pequena, pois não trazia muitas bagagens de suas andanças. Só o que
cabia no peito e na mente. Ele a pintou com suas cores preferidas: verde e
amarelo. Fez uma petição ao prefeito e os desfiles de sete de setembro passaram
a ser na sua rua. E todos os anos, ele – herói de guerra – era chamado a
discursar ao lado das autoridades locais.
Seu filho formou-se
na faculdade e tornou-se um próspero empresário, com dois restaurantes na
região. Genuíno podia se dizer realizado. Mas as três décadas de trabalho não
lhe permitiram findar seu outro sonho: publicar o livro sobre sua odisséia
brasileira. O seu legado.
Justamente agora
que conseguiu finalizá-lo, aos oitenta e cinco anos, Genuíno deixou para sempre
sua terra natal. A editora lançou um belo livro ilustrado. E a quarta capa traz
uma nota do editor: Esta obra é única. Em seus relatos e suas fotos. Uma
criação de um genuíno brasileiro...
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