13 de mai. de 2012

A campanha

Meu desejo de voltar às cidades históricas de Minas vinha de longa data. A riqueza do barroco traduzida na arte sacra das naves e altares da região; aquele clima de passado tão presente nas áreas tombadas e nos monumentos restaurados; a beleza das gemas brasileiras transformadas em arte por criativos designers de jóias; tudo é um convite a um deleite estético inenarrável.
Surgiu-me a chance de passar por lá em meio a uma viagem de trabalho. Seriam três dias durante um fim de semana prolongado.
Pela janela da pousada onde me hospedei via uma pracinha acolhedora. Um recanto onde os moradores passam por tradição e os turistas por prazer, e que conseguia sintetizar a atmosfera local. A cafeteria da praça exalava um aroma de café da fazenda que se entranhava nas casas de estilo colonial mineiro, condensando décadas de história num cenário de oitenta metros quadrados.
O movimento da pracinha tinha seu ritmo próprio. Tudo ali parecia se inserir numa dimensão à parte. Como um hiato no tempo e no espaço onde todos se encaixam perfeitamente, esquecendo-se de que o mundo segue em paralelo fora dali.
No passeio central, um menino corria com uma cesta na mão e acabou se chocando com um homem que vinha em sentido oposto e falava ao celular. Da colisão resultou uma chuva de pétalas de rosa nos moldes de uma cena de Fellini. Os dois riram.
 O homem perguntou:
– O que vai fazer com isso?
– Um coração. Vou colar e dar pra minha mãe.
Ele se abaixou e ajudou o garoto a recolher as pétalas espalhadas. Depois entrou na cafeteria.
O aroma do arábica ficara mais forte e também me atraiu para lá.  Entrei e me sentei à mesa ao lado do homem de Fellini. Ele falava novamente ao celular:
– ...E aquela chuva de pétalas se espalhou sobre nossas cabeças! Pensei em usarmos isso. Vou preparar um roteiro e envio à noite.
Assim que ele desligou, virou-se para ao lado e me pegou sorrindo.
– Eu vi a cena – disse. –  Foi incrível!
– Foi mesmo. Estamos criando um comercial para uma joalheria. Acho que vou aproveitar a ideia e colocar a caixinha da jóia no meio das pétalas – ele disse.
– Uma campanha para o dia das mães? – perguntei.
– É, sim. Uma linha de jóias com gemas brasileiras.
– Design com ouro e pedras preciosas. Tem tudo a ver. Algo exclusivo, valioso, eterno e com um brilho que nunca se apaga. Exatamente como as mães...
– Você disse tudo. A frase é perfeita! –  ele riu. –  Agora vou ter que pagar os direitos autorais!
–  Vou considerar minha fala como algo de domínio público.
Ele riu e me entregou seu cartão.
– Faço questão. E o café é por minha conta.
Continuamos ali conversando por mais um tempo e me lembrei de perguntar:
– Que nome vai dar a essa campanha?
– Bom, depois do que você disse acho que vou optar por “Ouro de Mãe”.
– Ouro de mãe... – repeti. – Creio que não pode haver nada melhor...


                Nossa homenagem pelo Dia das Mães a todas as mulheres.

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